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Philip H. Anselmo And The Illegals - Tropical Butantã

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Publicada em 29, Jan, 2019 por Vagner Mastropaulo

Clique aqui e veja as fotos deste show.


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Cinco horas de espera que valeram a pena (mas só pelos clássicos do Pantera)

Sabe aqueles dias em que TUDO dá errado? A passagem de Phil Anselmo por São Paulo só não foi assim definida porque o show acabou rolando, mas foi por pouco e com o vocalista literalmente ´passando´ por aqui. Já os elogios couberam ao público mesmo após um belo chá de cadeira, pois, exceção feita a xingamentos isolados e dedos do meio em riste (seja lá a quem), o comportamento foi digníssimo: sem arruaça ou registros de pedidos de devolução do dinheiro (até onde apurado junto à bilheteria do Tropical Butantã). Mas o que de fato se sucedeu?

O primeiro indício estranho foi o anúncio de cinco datas no país e o posterior cancelamento de BH (Mister Rock, 25/01) e Rio (Circo Voador, 31/01) em comunicado oficial da produtora em 12/12 devido a uma "readequação logística da turnê" - algo como ir ao médico e ser informado que "você pegou uma virose". Com o show de 24/01 em Santiago esgotado, abriu-se data extra para o dia seguinte e aí começaram os problemas, já que, com as ´raríssimas´ chuvas de janeiro na Terra da Garoa, cancelou-se o vôo que traria a banda da capital chilena "devido à tempestade que caiu em São Paulo na tarde de ontem [nota: 25/01]", também de acordo com a EV7 Live no Facebook. Assim, o estimado novo horário para início da festa ´passava´ (o termo do dia) para "as 22:45 ~ 23:00, mais ou menos".

Como não é mole ser fã, houve quem chegou ao Tropical às 18:30, sem saber de nada e contando com a banda no palco às 19:45, o horário original. Conforme relato de dois guerreiros na grade da pista comum, ao menos a casa foi aberta cedo e eles puderam escapar da garoa. Os mesmos relataram que só ficaram sabendo do cenário quando "alguém deu o recado sobre o atraso pelo sistema de alto-falantes". A partir daí só restava aguardar. Enquanto isso, do lado de cá do balcão, imprensa também sofria: com a confusa e lenta liberação de entrada apenas às 22:10, não nos foi permitido o acesso à pista premium (não que a produtora seja a isso obrigada, mas nos ajudaria a oferecer uma cobertura melhor). Uma vez lá dentro, nada aconteceu até surgirem as primeiras vaias às 22:55 e, cinco minutos depois, tentando distrair o público, começou a rolar metal no som ambiente, embora baixo e embolado.

Com um telão cobrindo toda a visão do palco, não se sabia sequer se os amplificadores e instrumentos estavam a postos e rumores de todo tipo chegavam via WhatsApp e Facebook durante a espera, entre os quais: que o avião com os músicos havia pousado em Cumbica às 22:00; e que Phil não queria fazer o show (desmentido por ele no palco). Eis que às 23:35 surgiu um novo post no Facebook do evento: "Pessoal, vai rolar. Ficamos agarrados na imigração, mas estamos já a caminho do Tropical" e, vinte minutos depois, a primeira boa notícia oficial foi dada garantindo que cantor e banda estavam na casa "fazendo os últimos ajustes técnicos e, dentro de alguns minutos, é Phil Anselmo na cabeça, galera". Aliviado, um dos guerreiros citados ironizou: "Parece festival, né? Só que de uma banda só..."

É claro que outras pegadinhas ainda iludiriam o público: o corte do som ambiente (aos gritos empolgados) até ser religado (para frustração geral); o piscar da lanterna (o sinal definitivo do começo) de um ansioso roadie, do palco para a mesa de som ao fundo da pista (alarme falso); e em nada ajudou o técnico de guitarra afinar o instrumento rapidamente dedilhando o início de This Love. Na real, o telão só subiu à 00:40, com Philip H. Anselmo And The Illegals já no palco (o "H." é de "Hansen"), obviamente sem banda de abertura ou qualquer adereço decorativo. Ou seja: o lendário frontman, o recém-apontado baixista Derek Engemann, estreando ao vivo na turnê sul-americana (membro do Scour - um dos inúmeros trabalhos do ex-Pantera - e ex-Cattle Decapitation), os guitarristas Stephen "Schteve" Taylor (Superjoint) e Mike DeLeon (Flesh Hoarder) e o baterista Joey "Blue" Gonzalez (Superjoint, Warbeast e Metatron Nganga - teoricamente, um projeto death metal de Phil, ainda em gestação).

Com o baixo volume de seu microfone, ouvia-se Phil pedindo por barulho e dizendo: "Acabamos de sair da porra do avião e sei que está tarde. Muito obrigado por nos esperarem". Até para compensar o sofrimento da galera, rolar exclusivamente Pantera (como em West Hollywood, em 16/11) teria sido prêmio e estratégia ideais, mas a vã esperança caiu por terra: "Somos o Illegals e esta se chama Little Fucking Heroes", com todos os clichês do vocalista: braços cruzados, pose de fodão encarando a platéia e movimentos de cabeça em anuência. Ao seu fim, ouvindo gritos de "Pantera!" por parte de um fã mais exaltado, Phil foi claro: "Ei, vamos tocar Pantera, com certeza. Mas o som do Illegals é diferente e pesado pra cacete. Vá se acostumando. Diferenças, cara, abra a cabeça". Sem saber da separação da pista, apontou para onde queria ver circle pits, incluindo os camarotes laterais e de fundo, e anunciou Choosing Mental Illness (inspirado em Um Estranho No Ninho, com Jack Nicholson, vale conferir o clipe do primeiro single do álbum), após, hesitante, checar o setlist e brincar dizendo estar velho.

Ainda puto, mas grato, Phil cravou: "Ei, obrigado por nos esperarem. Não dá para lutar contra a porra do aeroporto e do avião. Vocês são uma grande audiência, olhem em volta. É isso que faz tudo valer a pena. A porra toda da viagem é um pé no saco, mas vocês fazem cada segundo valer a pena. Muito obrigado e uma salva de palmas a si mesmos. A próxima é hedionda, pesada e absolutamente miserável: Photographic Taunts, pensem a respeito". E não é que o volume do vocal e a equalização do som pareciam melhorar? Após a saideira dos fotógrafos (no pit só nas três primeiras), Phil sentou-se no retorno para fitar a galera e, em atitude inusitada, ergueu quatro fotógrafas para continuarem seu trabalho na lateral do palco antes de anunciar a última do Illegals: Walk Through Exits Only. Ao terminá-la, pediu a palavra: "Um dos meus melhores amigos morreu ontem. Bruce Corbitt, do Warbeast e Rigor Mortis, falaceu sucumbindo ao câncer. Um querido amigo, um irmão de uma das primeiras bandas de hardcore". Após pedir para gritarem seu nome quatro vezes, soltou um "I love you".

O que viria a seguir deveria compensar por tudo o que fãs (e banda) haviam passado: "Nós tocamos as próximas músicas como um tributo absoluto aos meus irmãos Vince e Dime". Para alguns, oportunismo após suas mortes, apelando para ganhar dinheiro. Para outros, a oportunidade de novas gerações ouvirem clássicos dos texanos. Reflexões à parte, o que rolou foi uma explosão de urros e, exceção a um aficionado por tudo que Phil Anselmo faz (algo perigosíssimo), verdade seja dita: os dois álbuns do Illegals são registros dignos e contêm momentos que soam como uma Suicide Note Pt.3, especialmente no primeiro, mas com a promessa de testemunhar A Vulgar Display Of 101 Proof Tour, não foi por eles que venderam-se tantos ingressos. Phil foi firme: "Quero ouvir todos cantando até os pulmões virem para fora. Vocês devem conhecer essa muito bem", o que deveria ser Mouth For War...

Aconteceu que, antes mesmo do "Revenge...", Phil interrompeu seus músicos e pediu para abaixarem o volume do baixo. Contrariado, ordenou: "Foda-se essa m****! Vamos tentar de novo. Luzes! Comecem a porra da música". E até tentaram, até nova ordem de parada: "Peço desculpas, mas isso está uma m**** e não é o som que eu quero. Quando aparecemos [nota: no aeroporto] todos afirmavam que o show estava cancelado e nós dizíamos: ´Não, não está!´. Estamos aqui porque amamos isso, tentando fazer bem feito. Não quero essa m**** acontecendo de novo e sim essas porras de músicas perfeitas". Na real, a corrida ´passagem´ de som (ou não fazê-la a contento) cobrou seu preço: o problema não era o baixo, mas as guitarras inaudíveis e emboladas, evidenciando que dois guitarristas não conseguiam dar conta do que Dimebag fazia sozinho. A terceira tentativa foi abortada no riff inicial, irritando Phil ainda mais. Sentado à frente da bateria, olhava para cima, mascava chiclete e mostrava a hora com o indicador direito no braço esquerdo. Exagero? Estrelismo? Com a reputação em jogo, a quarta vez foi definitiva (nem por isso com som melhor) e as quebras pouco afetaram a galera, que cantou a plenos pulmões (mesmo assim, veja no YouTube a versão em Santiago e note a diferença).

Única de Far Beyond Driven, com final alternativo e pedidos de Phil por punhos cerrados, Becoming manteve a energia, assim como This Love. Fucking Hostile foi o arregaço esperado e então, sem detalhar, Phil brincou com os pedidos por "determinadas músicas". Mais deixando o público cantar, regendo-o, do que cumprindo seu papel, era visível sua tática em se poupar (como condená-lo? Atrasos afetam os músicos tanto quanto os fãs. Ou mais?). Ao garantir: "Mais uma", HellBound representou Reinventing The Steel, mas você não preferiria ouvir a limada I´m Broken (presente no encore do setlist original e substituída)? Ou até algo do ignorado The Great Southern Trendkill? Finalmente, um medley do final de Domination (a rigor, do que vem a partir de 3´51" em estúdio) com Hollow (pouco antes de "He as hollow as I alone") pontuou a saída dos músicos do palco após novos agradecimentos.

O que seria I´m Broken virou Walk após gritos da platéia: "Respect! Walk" e o vocalista foi só elogios ao encerrar os trabalhos: "Temos que pegar outro avião. Três horas de sono e é isso! Só uma pergunta: vocês se divertiram? Vocês são das melhores audiências do mundo, falo sério! E olha que rodei o mundo, São Paulo. Cantem comigo": A New Level. Pensa que acabou? Como João Kléber, Phil parou tudo: "Esperem aí! Quando começarmos essa, quero ver todos aqui indo à loucura. Comecem de novo". Obedecendo à risca e indo à loucura, Mike DeLeon tomou um senhor escorregão (registrado em vídeo no Facebook do evento).

O saldo? Dizendo estar limpo há três anos em entrevistas recentes, o polêmico vocalista afastou-se das confusões (a última foi o estúpido "White Power" após a saudação nazista no Dimebash em 22/01/16). Extremamente profissionais, Phil e Illegals conseguiram se apresentar em condições para lá de adversas. Elogios até à produtora, que fez o evento acontecer, mesmo em considerável atraso. Mas o dez foi para o público que lotou a casa, mostrou maturidade do começo ao fim e partiu feliz às duas da manhã. Ao despedir-se, Phil foi sincero: "Amamos vocês. Nos veremos assim que possível. Obrigado" e jogou duas garrafas de plástico para hidratar quem estava na premium e uma para o camarote lateral. Houve tempo para um último pedido: "Oficializemos isso. Todos cantem com o velho aqui: ´And she´s buying the stairway to heaven´", soltando o microfone com Killer Queen rolando no som ambiente (teria sido mais legal se fosse Don´t Stop Me Now, como em Bohemain Rhapsody, com os créditos subindo).

Por fim, uma sugestão à EV7 Live: se já há a segunda perna da turnê de Phil Anselmo And The Illegals em agosto (Argentina, Peru, Colômbia, Costa Rica e México, até agora), por que não consertar o estrago trazendo-os a São Paulo outra vez, oferecendo a músicos e fãs as condições satisfatórias para um SHOW propriamente dito? Oportunidade de treino haverá em seus próximos eventos: Venom Inc.; Eluveitie e Exhumed/Beyond Creation. Que tal uma mistura dos projetos de Phil: Pantera, Down, Superjoint, The Illegals, Scour, Arson Anthem, En Minor, Metatron Nganga...? E, por curiosidade, como ficou o show de Aldair Playboy/Oliver Santana, marcado a princípio para as 23:59, também no Tropical?

Setlist
Philip H. Anselmo And The Illegals
01) Little Fucking Heroes
02) Choosing Mental Illness
03) Photographic Taunts
04) Walk Through Exits Only

Pantera
05) Mouth For War
06) Becoming
07) This Love
08) Fucking Hostile
09) HellBound
10) Domination / Hollow

Encore
11) Walk
12) A New Level


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