Steve Hackett Playing Genesis em São Paulo
Publicada em 21, Aug, 2023 por Marcia Janini
Na noite do último domingo, Steve Hackett (ex-Genesis) apresentou sua nova turnê acompanhado pelos virtuosos músicos da banda argentina Genetics, tocando na íntegra o álbum Seconds Out, segundo ao vivo da lendária banda de rock progressivo Genesis lançado em 1977.
Iniciando o show por volta das 20h15, ao som da cíclica e criativa "Ace of Wands", que traz em seu bojo elementos da sonoridade celta em meio às intensas variações dinâmicas... Apresenta estrutura em rondó, bem pontuada pelos dedilhados ágeis da guitarra de Leo Fernández em diálogo com o primoroso teclado na junção com o delicioso e suave acompanhamento determinado pela exímia bateria, em um instrumental firme.
Para a delicada melodia de "Spectral Mornings" elementos da new age traduzem a suavidade de sons que remetem à natureza, com ares suavemente pautados numa delicada aura que remete ao esoterismo, à espiritualidade, em acordes minimal da guitarra de Steve Hackett com glissandos e evoluções de grande teor estético. Em conversões nada óbvias, a bateria de Daniel Rawsi mantém o andamento ralentado, apoiando os arranjos do brilhante teclado.
Na agilidade dos cromatismos explorados pelo dedilhado ágil de Steve Hackett, surge a introdução de "Shadow of the Hierophant", que explora forte dramaticidade nos breaks estratégicos propostos pelo teclado de Horácio Pozzo, em diálogo com a bateria em cadenciado forte, contundente. Melodiosa, a guitarra explode em glissandos de grande delicadeza, em mais um belíssimo momento da apresentação.
Iniciando o bloco de canções do álbum Seconds Out, carismático, o vocalista Tomás Price traz modulação precisa, explorando tonalidades agudas para a execução de "Squonk", emoldurado com graça pelo teclado em minimal. Na estrutura em rondó, a melodia traz o diferencial da belíssima condução da bateria, tendo o blueseiro baixo de Claudio Lafalce no contraponto, em uma melodia que conversa discretamente com o pop rock. Acordes de efeitos etéreos da guitarra de Hackett na finalização traduzem charme extra à melodia.
Para a clássica "The Carpet Crawlers" o coro do público auxilia na ambientação intimista da canção, traduzindo momento único de sinergia palco/plateia. Afretando suavemente nas conversões, a bateria mantém o linear andamento da melodia, em interessante diálogo com o baixo de Claudio Lafalce e com os bem pontuados teclados.
Em "Robbery, Assault and Battery" mais uma deliciosa canção com o acento pop do andamento conduzido com maestria pela bateria, em meio aos acordes solapados da guitarra de Steve Hackett e à intensidade dos teclados, em diminuendos e retardos estratégicos no segundo movimento da canção. Alucinante, a bateria de Rawsi desenvolve agilidade apoiando os cíclicos glissandos da guitarra, descendentes na finalização. Primoroso!
Diáfana, a introdução da linda balada "Afterglow" aponta o teclado de belíssimos acordes em suspensão, traduzindo ambientação de velado mistério, emoldurando com propriedade o belíssimo e firme vocal de Tomás Price. Desenvolvendo a trama expressa pela bela letra, os instrumentos seguem linha melódica suave, contrastando com a firmeza e agilidade das conversões da bateria de Daniel Rawsi.
Em "Firth of Fifth", canção tética, que já inicia firme no grandioso instrumental denotando a urgência da letra, surge mais um grande momento da apresentação, com a intensa participação do público. Trazendo a tonalidade futurista do theremin ambientado pelo potente teclado, a melodiosa flauta acompanha o vaudeville proposto pelo piano de Pozzo, ascendendo para os criativos acordes da guitarra de Steve Hackett em cromatismos e glissandos de um colorido todo especial, em uma suíte ricamente adornada pelo brilho da percussão formada pelo intrínseco diálogo entre as duas baterias, em simultaneidade com as cordas das guitarras melódica e rítmica. Amazing!
Descontraída, de acento pop, o grande hit "I Know What I Like (In Your Wardrobe)" traz mais um especial momento da apresentação, seguido por "The Musical Box", mais uma linda balada, entoada em uníssono pelos presentes. Em vigorosos dedilhados as guitarras de Hackett e Fernández dialogam com o teclado e emolduram com propriedade a belíssima performance vocal de Price, em modulações e vocalizes intensos para mais um privilegiado instante do show.
A bela ciranda de "Supper´s Ready", com seus folclóricos elementos brilha no diferenciado tom vocal de Tomás Price, sustentado pelo instrumental simples dos violões de aço, em dedilhados precisos de grande efeito estético. Ambientando delicada aura de mistério, acordes de notas em suspensão dos teclados de Horacio Pozzo na tonalidade órgão, arrefecem e descambam para o metálico de um cravo bem temperado, ascendendo para a junção com a bateria, de andamento pop, remontando às canções pastoris. Great!
Descontraída "The Cinema Show" trazendo elementos esparsos do circense pasodoble na métrica do fraseado vocal e na condução diferenciada de piano e bateria em um diálogo inusitado, ousado e criativo eleva a apresentação a um outro patamar, onde o lirismo da flauta arrematada pela marcha militar dos tambores se funde à enérgica e ousada narrativa expressa na melodia, mais uma vez apoiada pelo impressionante duo de bateria em êxtase!
Na sequência, o belíssimo instrumental de "Aisle of Plenty" traduz mais um momento de grande importância no show, com os violões de aço dedilhados à guisa de alaúdes na introdução, ascendendo em andamento e cadência para uma dinâmica composição, ambientada com suavidade e graça pelos belos arranjos da etérea flauta, que ganha os ares em inspirada performance, apoiando o perfeito vocal de Tomás Price.
Além dessas canções, clássicos como "Dance on a Volcano" e "Los Endos" constaram da memorável apresentação, além das pérolas reservadas para o momento do bis, na execução de "The Lamb Lies Down on Broadway", "Fly on a Whindshield" e "Broadway Melody of 1974".
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