Milton Nascimento e Criolo no HSBC Brasil
Publicada em 25, Aug, 2014 por Fabiano Cruz
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Esta resenha vai ser uma crítica em forma de alerta. Aos poucos nossos “heróis” das Artes vão caminhando aos seus merecidos descansos, e quando olhamos em volta, mal percebemos outros que tomaram não seus lugares, mas sim espaços e públicos para que não fiquem vazios. Milton Nascimento, como muitos outros, dão valor aos nomes mais novos, em uma visão única do que acontece na ciranda das produções artísticas. A produção de Linha de Frente, Milton convidou Criolo, numa ousada parceria em palco: as músicas mais intimistas voltadas a um universo mineiro se junta a composições mais universais com linguagens de comunidades e seus moradores; deu liga, parceria muito aclamada, e os resultados trouxeram pela primeira vez em São Paulo a produção.
O palco do HSBC Brasil foi a casa da noite. Com um pouco de atraso, aproximadamente 30 minutos, com a banda (excelente por sinal!) mandando um som jazzístico com o tempero que Milton sempre deu ao estilo, ambos os cantores entram juntos em palco; ovacionados e aplaudidos, com Criolo andando de um lado ao outro do palco e Milton mais quieto no centro, deu um ar meio melancólico logo no começo, particularmente já pensei que poderia estar alguma coisa estranha, mas a sensação por hora se esvaiu e deu lugar a beleza que foi ouvir A Terceira Margem do Rio, dando uma força maior ao jogo de palavras com Criolo dando suporte a voz de Milton. Mágico.
O Vento foi executada logo após, com Milton no violão comandando a apresentação da música. Mariô, música de Criolo, levantou os presentes com sua batida mais moderna e seus versos cantados pelos fãs. A icônica parceria de outrora entre Milton e Chico Buarque em Que Será? foi apresentada em um novo arranjo que coube perfeitamente na voz de Criolo, mais um momento magistral da apresentação.
Mesmo a apresentação correndo conforme o escrito, aquela sensação de “tem algo de estranho” voltou na pequena pausa entre as músicas, onde Milton disfarçadamente baixou a cabeça e fez um sinal para o backstage, mas com violão e mãos começou as primeiras notas de uma das canções mais fortes de nossa música: Cio da Terra; e o que parecia que algo estava errado, nesse momento foi claro que Milton estava com algum problema, pois no meio da canção parou de cantar, tropeçando nas palavras, onde foi ajudado por Criolo e o público nas notas. San Vicente foi tocada de forma mais suave, dando um fôlego a mais, mas em Ponta de Areia se concretizou o que temia e de certo modo previa. Com uma sanfona que Milton ganhou de sua mãe na infância, a canção, que já é fortemente carregada de emoções e sentimentos, ganhou um solo de Milton em seu instrumento que o acompanha a anos; foi claro o esforço, principalmente sentimental, de Milton na canção, e após terminar, pediu desculpas e saiu de palco junto com a banda.
Foram 15 minutos de espera, até que os músicos voltam ao palco sem Milton, e Criolo toma a frente avisando que Milton passara mal e não fazia sentido continuar a apresentação sem ele, principalmente pelo respeito que todos em palco tem pela história do cantor, pedindo que o público entendesse que finalizariam a apresentação ali. Foi noticiado após em alguns sites e jornais que Milton teve alguns problemas de mal estar, onde fez exames no Incor. Não houve notícias mais aprofundadas, mas a segunda apresentação marcada para sábado foi cancelada.
Esperamos que nada de mais grave tenha ocorrido, e serão marcadas novas datas das apresentações, a serem anunciadas pela casa; o pouco mais de 30 minutos de sábado mostrou que a produção é uma das mais preciosas atualmente, Criolo se adaptou muito bem as canções de Milton, sendo uma importante voz nas canções, e Milton, como sempre fez, se reinventando em sua carreira em arranjos modernos e dando abertura a novos rumos de nossa música. Mas o alerta em questão do começo do texto ainda fica no ar...
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