Ian Anderson e a Ópera Rock de Jethro Tull em São Paulo
Publicada em 10, Oct, 2015 por Marcia Janini
Na noite da última quarta-feira 7 de outubro, a banda Jethro Tull em nova formação, liderada por seu front man Ian Anderson, subiu ao palco do Teatro Bradesco no Shopping Bourbon em São Paulo, por volta das 21h10, após pequeno retrospectivo histórico nos telões, marcado por metrônomo, que com gradual aumento do andamento, exibia em maior velocidade notícias relevantes e atuais do mundo, à medida em que anunciava a breve entrada dos integrantes da banda no palco.
Continuando a viagem musical, a introdução da clássica canção "Heavy Horses", e sua execução surge no dueto realizado entre Ian e Unnur Birna Bjornsdóttir (como a personagem Susannah Tull) numa interação entre o intérprete e o telão ciclorama de fundo de palco, em meio a imagens esparsas da vida no campo. Inovador para o início de uma apresentação. O esquema de iluminação elaborado auxilia neste diálogo intenso entre músicos e imagens, em inusitada ambientação.
"Wind-Up" em interessante releitura, apresenta esparsos elementos modernizadores, determinados pelos acordes distorcidos da guitarra base, que recebem posteriormente o complemento do bandolim de Ian Anderson, antecedendo o grande clássico "Aqualung", que também aparece com nova roupagem, num dos mais interessantes momentos da apresentação.
Para "With You There to Help Me" e "Back to the Family", a belíssima flauta transversal de Ian realiza brilhantes tessituras e desenhos harmônicos, sendo acompanhado com propriedade pela belíssima bateria cadenciada, de andamento consistente e acordes precisos.
Teclados em suspensão, címbalos e andamento ralentado da bateria surgem como apoio às doces e fluidas notas extraídas da flauta em "Farm on the Freeway" numa das melodias mais introspectivas da apresentação. A suavidade do instrumental contrasta com o vocal forte, vibrante e ácido de Anderson, carregado de dramaticidade. Elementos da sonoridade céltica surgem na conversão ao refrão, sugerindo as festivas quadrilhas campesinas, que ascende para cadência de hard rock na finalização. Belíssimo!
Dando prosseguimento à ópera "Prosperous Pasture", sugerindo as milenares cantigas de colheita, apresenta o andamento fluido em cadência de marcha, seguido pela dissonante "Fruits of Frankenfield", explorando a temática de realismo fantástico, em acordes sugerindo a sonoridade de suspense, repleta de cromatismos e inusitadas harmonizações, onde à bateria em andamento cadente, une-se a guitarra distorcida e o os teclados em notas suspensas, de acordes intrincados.
A clássica ciranda "Songs From the Wood" explorando sonoridade repleta de pausas estratégicas e pizzicatos na flauta, sugerindo a sonoridade dos pífanos, além de belíssimo cânone dos músicos em coro, revela-se como um dos pontos altos da apresentação, encerrando o primeiro bloco do espetáculo.
Após intervalo de 15 minutos, têm início a apresentação da segunda parte do espetáculo com "And the Worlds Feeds Me", seguido pelo clássico "Living in the Past", interpretado com brilhantismo por Ian, à frente de sua própria imagem no telão, em vídeo que remonta à gravação original da canção, num interessante encontro do jovem flautista de outrora com o experiente músico da atualidade. Impressionante a aura de jovialidade expressa por Anderson neste momento do show, marcando um dos melhores instantes de sua performance individual na apresentação.
"Jack-in-the-Green" traz introdução apenas em voz e violão. Os demais instrumentos surgem aos poucos, emoldurando a bem construída melodia, introspectiva e suave.
A intensa e urgente "The Witch's Promisse", em mais um dueto entre Ian e a personagem Susannah surge explorando delicadas tessituras e sonoridades da exímia flauta. Intensas variações dinâmicas e imagens no telão remetem ao psicodelismo.
Harmoniosa e delicada, a introspectiva melodia de "Weathercock" traduz a suavidade das árias campestres, explorando sonoridade que remete em sua origem ao baixo medievo, num interessante contraste com a moderna "Stick, Twist, Bust" na cadência do hard rock, com pitadas da sonoridade heavy. Inusitado e genial encontro de gerações musicais!
"Cheap Day Return" explorando sonoridade blueseira, onde a magistral flauta divide espaço com a gaita bem pontuada, emoldurando com graça e leveza o vocal feminino na junção com o baixo em dub, num perfeito contraponto à bateria cadenciada, se apresenta como mais um ponto culminante na apresentação.
Após a execução da clássica "A New Day Yesterday", com sua peculiar grandiloquencia determinada pelos poderosos arranjos da bateria na deliciosa e viajante cadência progressiva, repleta de variações em andamento e cadência surge alternando dinâmicas suaves ao urgente e contundente fraseado vocal.
"The Turnstile Gate" traz a belíssima introdução do piano em acordes blueseiros. Em reposta, a guitarra surge furiosa em perfeitos riffs, emoldurada pela bateria de andamento constante e pelo baixo contrapontístico. Perfeição a cada acorde!
Encerrando a memorável apresentação e o libreto da ópera que realiza a perfeita viagem pelo universo do rock progressivo e da carreira de Ian e do Jethro Tull, "Locomotive Breathe" e o brilhante e ousado medley entre o "Requiem" de autoria da banda e a "Fuga" de Bach. Intenso!
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