David Garrett no Espaço das Américas
Publicada em 28, Jul, 2015 por Fabiano Cruz
Muitos músicos, mesmo com a dura e técnica formação erudita, sempre caem para a leveza e desconcentração da música popular – isso, claro, falando de forma muito superficial e abrangente, mas não vamos entrar em detalhes. David Garrett, violinista de formação erudita na famosa e conceituada Juilliard School of Music, é um desses músicos; virtuoso, trouxe ao Brasil sua nova turnê onde faz inúmeras releituras com seu violino, transitando com naturalidade entre o pop e o erudito.
Pode soar muito um “enlatado americano”, típico show pop do mercado de atrações musicais, porém Garrett sabe fazer do “show bussiness” algo realmente perfeito e emocionante. A casa Espaço das Américas teve nesse sábado lotação máxima; claro, em uma boa parte um público atrás da beleza visual da apresentação e do instrumentista – chega a ser hilário ver o quanto de “uau” e aplausos Garrett recebeu quando soltou seu cabelo -, mas o público que foi pela música em si realmente ficou de boca aberta com o que viu.
A apresentação foi bem calcada no Rock´ n´ Roll e em clássicos do clássico, contudo Garrett mostrou toda técnica e virtuosismo em várias vertentes musicais. A entrada triunfal onde apareceu no fundo da casa e passeou pelo público tocando um medley e consistiu de He´s a Pirate / Smooth Criminal / Smells Like Teen Spirit / Walk This Way (indispensável citar de quem são os clássicos) já mostrou o tom da apresentação. O carisma de Garrett já ganha o público, e quase sem pausas já toca Baila Me do Gipsy King e uma das melhores versões de Born In the U.S.A. que eu já escutei. O lado romântico veio com Ma Dove Sei, parceiria com Andrea Bocelli, a qual teve sua voz emprestada em playback, e seguiu com sua homenagem ao Brasil com uam releitura de Tico Tico no Fubá - só essa canção já valeu a presença no show.
Daí pra frente foi uma verdadeira aula de técnica instrumental e de arranjos musicais. A canção de Kate Bush Babooshka pelo violino de Garrett ganhou fortes sonoridades do folclore russo; Fuel do Metallica manteve seu peso; I Have a Dream do ABBA transformou a casa em um ambiente de pista de dança. Inacreditável a versatilidade de Garret, até mesmo nas releituras de Lacrimosa, uma parte do Requiem em Ré Menor de Mozart e de Fortuna Imperatrix Mundi, movimento da ópera Carmina Burana de Carl Orff; em vez de presenciarmos algo aos moldes do clássico, vimos um violinista acompanhado de um arranjo de banda coesa e forte, uma releitura pop e contemporânea sem perder a magnitude das obras.
Depois de uma pausa, Garrett e banda voltam com uma bela versão de We Will Rock You que abriu espaço novamente ao romantismo com Melancholia, composição própria que teve participação do cantor Sam Alvez, e We Are the Champions. Se engana quem pensa que Garrett brilha sozinho; sua banda é perfeita e coesa, como mostrado em um medley que teve a base principal a canção Dude (Looks Like a Lady) onde todos solaram. Talvez o ponto alto ficou nessa parte, pois a trinca da versão quase Heavy Metal da abertura da Sinfonia nº 05 de Beethoven, a sutileza na versão de Your Song de Elton John e a forte emoção passada com Requiem do compositor Giuseppe Verdi foi algo no mínimo mágico. Daí pra frente, foi só curtir o restante do show com as versões de La Bamba, Wrecking Ball, Viva La Vida, Master of Puppets e o término com Always on My Mind – só curtir, pois o que tinha para ser mostrado, Garrett já mostrou, desfilando toda sua técnica e virtuosismo.
No fim, um dos mais perfeitos shows que tivemos no Brasil até então nesse ano; não somente a escolha e os arranjos das músicas foram primorosos, aliados a fina e perfeita execução instrumental, mas também o som e a iluminação estavam maravilhosos, que junto com o gigante telão no palco (tomou conta de toda parede de fundo) complementaram com perfeição a apresentação. O difícil depois foi tirar da cabeça a já “pegajosa” melodia de Livin´ On a Prayer do Bon Jovi executada no timbre do violino...
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