Sabaton no Carioca Club
Publicada em 09, Sep, 2014 por Fabiano Cruz
Mesmo ter crescido dentro do Heavy Metal, hoje as bandas de som mais tradicional carecem mais de ousadia em suas composições; os medalhões não ousam – até porque nem necessitam disso – e as mais novas não inovam, seguindo os caminhos dos que as influenciaram. Nesse ponto, mesmo com a lírica voltado a guerra em geral, tema que segue o Heavy Metal desde seus princípios, o Sabaton a tempos me chamou a atenção pelo instrumental um pouco diferenciado, arriscando mesmo timidamente uma acorde aqui, uma rítmica ali, os suecos vem aos poucos se destacando cada vez mais no estilo, chegando a ser um dos principais destaques em festivais europeus e com uma sequência de discos muito bem recebidos: Coat of Arms, Carolus Rex, e o último trabalho, Heroes, a qual a turnê de divulgação vai passar pelo Brasil por quase todo esse Setembro de 2014.
Marcado para o domingo, “feriado” de 7 de Setembro, a casa Carioca Club foi palco da apresentação num horário bom, e quase sem atrasos, as 19:00 sobe ao palco a banda de abertura escolhida pelos próprios suecos: Armahda. A banda comandada pelos idealizadores Maurício Guimarães e Renato Domingos, magicamente conquistou os presentes logo na primeira música Ñorairô; com somente um disco lançado ano passado, a banda mostrou força e competência a nível profissional, sendo que canções como The Iron Duke e Canudos funcionaram perfeitas ao vivo. Junto aos idealizadores, estão ao lado João Pires (bateria), Ale Dantas (guitarras) e Paulo Chopps (baixo), todos impecáveis na apresentação, principalmente João Pires, mostrando uma técnica impecável na bateria que soou forte e firme, mesmo não tendo 100% do som da casa – outro ponto importante a destacar, pois o engenheiro de som Rafa deixou cristalino o som da banda, mesmo com um começo um pouco do som embolado. Armahda e Flags in the Wind aumentaram o êxtase dos presentes, já contando com bom número na casa, preparando o terreno para o golpe final: a única música em português da banda, Paiol em Chamas, deixou o Carioca Club em pé, com muitos que já conheciam o som cantando juntos. Uma verdadeira conquista! O Armahda já deixou seu recado, falta a banda mostrar cada vez mais seu trabalho.
E com os temas nacionais muito bem escritos de lutas brasileiras, o Armahda já deixou aquele ar de guerra perfeito para o Sabaton. Tudo bem que The Final Countdown inteira nos PAs como abertura quebrou um pouco esse clima, mas os suecos já subiram no palco não deixando pedra sobre pedra: Ghost Division e a música de trabalho de Heroes, To Hell And Back, já marcaram o show agitado que o Sabaton sempre faz, que começo arrasador! Os nos diferenciados que citei no começo da resenha tem destaques importantes ao vivo, onde a banda se mostrou muito mais competente em um show do que em disco: a sequência com a cadenciada Carolus Rex, a criativa e cantada em sueco Gott Mit Uns e com a impactante Uprising fez com que todos na casa cantassem e agitassem junto com a banda, numa troca de energia fascinante.
A apresentação não caiu nem nenhum momento: clássicos da banda como The Art of War e 40:1, junto com a nova Far From the Fame, mantiveram o ritmo forte e, claro, com a atuação de cada um não poderia também o show ficar no mínimo morno. E o destaque da atuação de Joakim Brodén foi no mínimo fenomenal... Ele já se destaca pelo seu timbre totalmente incomum no Heavy Metal tradicional, afinal sua voz é bem mais grave do que a maioria esmagadora de vocalistas do estilo, e junta ele sendo um verdadeiro “comedy” em palco, pronto, fórmula perfeita! Comunicativo a todo o momento, a cada música soltava uma piadinha aqui e ali, arrancando gargalhadas dos fãs (foi impagável o momento que ele pediu uma palavra em português de mesmo significado de “stupid”, e quando falaram para ele “retardado”, ele soltou em um belo tom sarcástico “eu sou um retardado”).
Swedish Pagan fechou a primeira parte da apresentação e em curto tempo, Night Witches abre o bis. E um dos momentos mais aguardados veio logo após: com Brodén falando que sabia da data importante ao país, Thobbe Englund solta poucas notas do hino nacional na guitarra e com um belo “a cobra vai fumar!” a banda toca Smokin Snakes, uma homenagem aos três heróis brasileiros do 11º Regimento de Infantaria que resistiram em uma colina até o fim contra as tropas alemãs – algo que, historicamente e em certo ponto importante, pouco se é falado dessa participação do Brasil na Segunda Grande Guerra -, homenagem a qual o público cantou a altura e plenos pulmões o refrão “Cobras Fumantes, eterna é sua vitória!”. Mesmo com as energias já embaixo, Primo Victoria e Metal Crüe fecharam com dignidade a apresentação do Sabaton.
Por ter sido uma apresentação de uma banda do “segundo escalão” do Heavy Metal – e no mesmo dia em São Paulo também tocando Death, banda que homenageia Chuck Schuldiner – o que tivemos foi um dos melhores shows do ano do estilo, sem nenhum exagero! Tanto Armahda como Sabaton nos brindaram com perfeitas e energéticas apresentações, fazendo com que as pouco mais de duas horas dentro da casa se passassem rapidamente. E ambas as bandas merecem o crescimento e destaque que vem tendo, em uma justa caminhada!
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