Rancore - Seiva
Publicada em 27, Apr, 2011 por Marcia Janini
O terceiro álbum da banda Rancore traduz grande diferencial ao rock nacional da atualidade, muito voltado às sonoridades pop e eletrônicas. As canções constantes do álbum, todas de própria autoria, passeiam por variadas vertentes do classic rock, em fusão com sonoridades alternativas e notas indiscutíveis de uma exuberante e nada convencional brasilidade.
Já na primeira faixa do álbum, “Ritual”, uma longa introdução explora variados recursos e tonalidades musicais, trazendo inquietude e chamando a atenção para a primeira estrofe, onde o rock nacional de inspiração 80`s brilha no inspirado vocal de Teco Martins. Elementos do punk na bateria cadenciada de Alê Iafelice e na letra reflexiva e do dark wave nas guitarras distorcidas de Candinho Ubá e Gustavo Teixeira e nos backing vocals guturais e urgentes que traduzem à canção uma atual atmosfera retrô.
“Jeito Livre” traduz um delicioso apelo new wave na canção de letra introspectiva para fraseado descontraído, um tanto lacônico e ácido, determinando um tom divertido e ao mesmo tempo crítico, elementos indispensáveis à construção de uma canção atual, com recursos verticalizantes advindos de sonoridades anteriores.
Com suaves toques que remontam à psicodelia 70`s, determinada por esparsas notas da percussão em meio à cadência e andamento pop rock, “Mãe” traduz à letra construída com base em anexins e metáforas de cunho popular um ar profético e denso, tornando a canção particularmente diferenciada, fugindo ao lugar comum, caminhando em movimento análogo ao da moderna MPB pela inteligência não óbvia da letra. Uma das melhores canções do álbum!
“5:20” inicia em pesada sonoridade dark wave na introdução e no fraseado vocal da primeira estrofe, conduzindo à reflexão sobre temáticas cotidianas. O ponto chave desta canção é determinado pela ousadia e charme do dark wave nacional cantado em português, remetendo na melodia consistente, de acordes densos e condução firme às origens deste estilo, em mais uma bela canção que demonstra toda a criatividade da banda.
“Mulher” traz em sua introdução belos acordes do baixo de Rodrigo Caggegi, em perfeito contraponto com a bateria, determinando a atmosfera lúcida e madura para a letra que irrompe na temática romântica, sem descambar no piegas.
A interessante canção “Samba”, que em nada faz alusão ao estilo musical expresso pelo título, aproximando-se mais da interpretação proposta pela letra, traz na bateria cadenciada em suaves toques de percussão o andamento ralentado, remontando à ritmos como o baião, na junção com o belo fraseado vocal e guitarras distorcidas em afinação padrão do heavy metal... Inusitada, mais uma boa canção do CD…
“Inocentes” realiza na melodia de notas dissonantes e na letra um fiel retrato das noites paulistanas no atual celeiro do rock alternativo. Homenagem ou crítica bem pontuada pela bela condução da bateria de Iafelice em junção com as enfurecidas guitarras e à interpretação ímpar de Teco martins, em tonalidades que variam entre ácidas e divertidas notas. Suave tom de escárnio torna o fraseado vocal ainda mais interessante… Tema atual e recorrente, certamente provoca no ouvinte que conheça a região automática identificação. Tiro certeiro!
|