Gilberto Gil se Despede dos Palcos em Tempo Rei
Publicada em 29, Apr, 2025 por Marcia Janini
Na noite do último sábado, 26 de abril, o cantor e compositor Gilberto Gil realizou o último show de uma série de 4 apresentações da turnê Tempo Rei no Allianz Parque em São Paulo, que encerra os quase 66 anos de uma prolífica carreira.
Em grande aparato da cenotécnica, o show transcorre com atmosfera de grande celebração, após a queima de fogos introdutória. No palco, estruturas tecnológicas em formato de espiral produzem grande impacto, exibindo frases de efeito em meio às imagens do telão/ciclorama de fundo.
Subindo ao palco por volta das 20h30 acompanhado de sua banda em firme percussão, o hit "Palco" abre a noite em grande estilo, seguido pela deliciosa "Banda Um" que traz na percussão dos atabaques o acento caribenho da rumba latina, aliado com maestria à brasilidade baiana e ao acento de ijexá no refrão.
Em mais uma canção que explora a fusão com o acento latino no andamento ralentado do bolero, permeado com graça pelos metais, o clássico que intitula a turnê "Tempo Rei" surge em versão revisitada trazendo nova beleza e dinâmica a esta atemporal canção.
Trazendo as raízes nordestinas, surge o baião de Dominguinhos em " Eu Só Quero um Xodó", embalado pela sanfona potente de Mestrinho e pelo andamento ralentado explorado com precisão pela zabumba, permeada com graça pelo triângulo, que emoldura o vocal firme de Gil, em um dos momentos mais ovacionados do espetáculo.
O samba de roda surge no mais brasileiro de todos os ritmos, embalado pelo pandeiro malemolente e cheio de graça em "Eu Vim da Bahia", que traz o apelo majestoso do trombone de Marlon Sette simulando o brejeiro pistão de gafieira, traduzindo o encanto e refinamento dos metais à melodia com propriedade. Great!
Para um dos grandes sucessos da década de 1960, o hit "Procissão" surge trazendo o regionalismo do agreste nordestino em sonoridades como o baião em junção com a religiosidade das ladainhas e hinos católicos, em meio à letra de forte cunho social.
Após a introdução do frevo, o berimbau da capoeira traz a icônica "Domingo no Parque", remontando aos festivais de MPB que lançaram Gil ao estrelato. Lindo e precioso registro de reminiscências, trazendo o frevo final e festivo, contrastando com a forte carga dramática da letra. Genial!
Apresentando a parceria com Chico Buarque, surge a execução em fidedigna versão para "Cálice", após o emocionado depoimento de Chico nos telões, revelando o contexto de elaboração da canção, após a censura imposta pelo AI-5. Traduzindo roupagem atualizada, a percussão desempenha primordial papel, onde as batidas do tambor se aliam aos arranjos primorosos e ao lamento explorado pelos metais.
Surge na sequência a vinheta de "Bat Macumba", onde a referência à religiosidade afro-brasileira surge no batuque vindo da senzala, demonstrando a formação cultural da sonoridade brasileira, aliada à "Back in Bahia" que explora os acentos de jazz e blues na envenenada guitarra distorcida em cromatismos precisos de João Gil, em um momento diferenciado do espetáculo.
Trazendo o brejeiro acento do nordeste, a sanfona explora tonalidades suaves na introdução, se aliando a beleza do bolero de "Refazenda" uma canção suavizada, de letra bucólica, que remonta à beleza das coisas simples do sertão.
Com o forte acento do lundu e das sonoridades africanas "Refavela" remonta às origens da música negra nacional, onde a forte percussão do atabaque se alia ao caxixi indígena e o som da capoeira se funde a elementos da cultura indígena na percussão de Gustavo Dalva e Leonardo Reis.
Rememorando a tradução realizada para "No Woman, No Cry" (Bob Marley), Gil traz a balada reggae "Não Chore Mais" de sucesso na cadência do coco de embolada, permeado pelo pandeiro de couro, ascendendo para a reggaeira fusão com o forró pé de serra da sanfona. Finalizando uma enérgica rumba cubana. Belo momento do show!
Cheio de bossa e energia, Gil apresenta todo o esplendor de sua forma vocal no reggae de "Extra" em um momento primoroso de sua performance vocal, ladeado por suas backing vocals e seguido pelo sucesso "Vamos Fugir" onde os teclados Hammond auxiliam na ambientação ensolarada do reggae.
Continuando com mais um sucesso da fase reggaeira de sua carreira, a releitura para "A Novidade" (Os Paralamas do Sucesso) surge com o coro uníssono do público, seguida pela execução de um dos maiores sucessos da carreira na discoteca de "Realce", onde a bateria técnica de José Gil determinou a dançante cadência com maestria.
Empunhando sua guitarra Gilberto Gil recebe Nando Reis para um inspirado dueto em "A Gente Precisa Ver o Luar"... Apoiada com precisão pelo jazzístico trio de metais em diálogo com os teclados, a melodia ascende em variações dinâmicas de intensidade propostas pela bateria e percussão. Lindo momento do show!
"Punk de Periferia" surge revelando o namoro de Gilberto Gil com as sonoridades urban das grandes cidades em uma versão repleta da efervescente baianidade aliada à crítica social e ao acento 80's que dialoga com a soul music, numa fusão inusitada e ousada! Descontraído!
Em "Extra II (O Rock do Segurança)", mais uma dançante e descontraída canção onde o rockabilly se funde ao soul e à sonoridade brasileira, vemos mais um breve instante da genialidade e versatilidade de Gilberto Gil, no auge de sua expertise artística.
Após a dorida introdução da sanfona de Mestrinho surge a linda "Se Eu Quiser Falar com Deus", em acústico e intimista instante do show onde apenas acompanhado de seu violão e de um trompete, que se corresponde em intenso e vívido diálogo com os violinos, Gil explora a beleza da letra em modulações precisas.
Em um dos momentos mais belos e emocionantes da noite Preta Gil, ainda convalescente, sobe ao palco para dividir com Gil os vocais da linda e biográfica "Drão", escrita para Sandra Gadelha, ex-esposa de Gil e mãe de Preta, em uma homenagem cheia de sentimento e poesia... Emocionante!
Se aproximando dos instantes finais do show, surge "Estrela", em mais um brilhante e lindo momento da apresentação, seguida pela igualmente bela "Esotérico", dedilhada no violão com suavidade e despojamento por Gilberto. onde suas filhas Vera e Maria fazem os backing vocals.
Trazendo os nordestinos pífanos aliados ao pandeiro vigoroso em firula, surge a introdução para a latada introdutória ao forró permeado com graça pelo triângulo de "Expresso 2222", em um dos mais dançantes e descontraídos instantes do show.
A noite revelava ainda mais algumas surpresas cuidadosamente preparadas para os fãs nas execuções de "Andar com Fé", "Aquele Abraço", "Esperando na Janela" e "Toda Menina Baiana", além de outros sucessos.
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