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Shaman lava a alma dos fãs, exorciza os fantasmas do passado e mira o futuro em noite sold out

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Publicada em 24, Sep, 2018 por Vagner Mastropaulo

Clique aqui e veja as fotos deste show.


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Ansiedade... essa era a melhor definição para o estado dos fãs antes de André Matos (vocais), Luís Mariutti (baixo), Hugo Mariutti (guitarra) e Ricardo Confessori (bateria) subirem ao palco juntos pela primeira vez desde 2006, reforçados pelo não menos competente Fábio Ribeiro (teclados). O próprio vocalista discorreu sobre o tema em entrevista à Roadie Crew de agosto: "uma boa dose de ansiedade na medida certa é fundamental para manter o foco", algo que definitivamente não faltou nas quase duas horas e meia de uma apresentação perfeita, deixando rusgas para trás e lavando a alma dos fãs que esgotaram os ingressos (forçando a abertura de uma data extra) e testemunharam a reunião do Shaman na Audio, formando dois distintos perfis: os que estreavam em concertos do quinteto e os que reviviam emoções de outrora.

Spoilers garantiam que Ritual e Reason seriam tocados na íntegra, restando saber funcionaria na prática. Friamente falando, foi o que aconteceu, com o show dividido em dois atos: primeiro vieram todas as músicas de Reason e então todas as de Ritual, como dispostas nos dois álbuns, separados por um intervalo de dez minutos. A explicação para a proposital inversão foi dada por André, antes de Pride, que fecharia o set: "A gente quis começar por onde a gente deixou (...) para daí voltarmos até quando vocês começaram a pegar essa banda". Mas após doze anos de espera, reduzir toda a atmosfera de uma noite a apenas isso seria um desperdício. Então, o que mais rolou?

Pontualmente às 21:00, abriu-se a cortina que preservava os discretos segredos do palco: peles dos bumbos decorados com a capa de Ritual, amplificadores e o telão ainda desligado atrás do kit de Confessori. Simplicidade por um lado, requinte por outro, através de uma excelente sacada que talvez tenha passado despercebida: exatos trinta minutos antes de sua entrada, a banda interrompeu a tradicional discotecagem (que sempre amaina a expectativa coletiva) tesourando Under The Bridge e substituindo-a por música instrumental. A nada sutil transição não pode ter sido mera coincidência, uma vez que gerou uma bela seqüência de trilhas sonoras de filmes e/ou arranjos orquestrais que foi de The Danish Girl (do filme homônimo) a Summer 78 (Adeus, Lênin) e Arrival Of The Birds/Transformation (Grande Balé Vermelho - O Mistério Dos Flamingos) - ambas com volume consideravelmente mais alto e utilizadas como Intro, já com o platéia urrando: "Shaman! Shaman!" [nota: para os mais curiosos, a completa e diversificada lista de canções da TPS - Tensão Pré-Show - encontra-se no final desta resenha]. Mesmo assim, a banda não veio de cara, pois antigas filmagens de bastidores no telão mostraram declarações do ´profeta´ André: "Eu acho que o futuro do Shaman vai ser uma conseqüência do que fazemos hoje. É muito difícil prever onde vamos chegar e certas coisas não acontecem no momento que você esperava que acontecessem. De repente, lá na frente, quando você não está esperando mais nada, acontece. Na verdade, o futuro é agora". Arrepiou!

Turn Away abriu oficialmente a festa, e se vocal e baixo soavam cristalinos e o volume de bateria era satisfatório, mal se ouvia a guitarra de Hugo (problema corrigido já a partir do solo). Os fãs notaram? A julgar pela explosão de vozes no refrão, nem um pouco. E é importante destacar que André não saiu do piano durante Reason e foi para outro teclado em More, ou seja: cada canção tinha sua dinâmica própria, garantindo a graça da apresentação mesmo sabendo-se a ordem das faixas. A belíssima Innocence, por exemplo, foi iniciada com apenas o vocalista no palco, ao piano, e com os fãs berrando o refrão, até consequente explosão sonora com a volta de seus companheiros.

Aos gritos de "Shaman! Shaman!" antes de Iron Soul, com Hugo e André pedindo por ainda mais barulho e luzes brancas no vocalista, esperavam-se algumas palavras, nem que fossem os clichês de sempre. Bem humorado, o cantor apenas comandou os gritos da galera, à la Bruce Dickinson, e saiu-se com um engraçado: "Já, já, a gente conversa". Mais efusiva interação só mais tarde... Encerrando o primeiro ato, Born To Be foi uma pérola, terminada com palmas do público enquanto os músicos partiam e filmagens do making of de Reason surgiam no telão (até o produtor Sascha Paeth apareceu). Como críticas: a excessiva duração de dez minutos (providencial para o descanso dos músicos) quebrou um pouco o ritmo do show; e a impossibilidade de leitura das legendas que contextualizavam as cenas, bloqueadas por amplificadores e a bateria de Ricardo.

A grande diferença para a parte Ritual do show foi a maior participação dos fãs, cantando as letras com maior entrega. Houve até coro de "Ô, ô, ô, ô..." durante a instrumental Ancient Winds (usada como intro) tamanha a voracidade da galera. Com todos os músicos retornando ao palco e saudando novamente seu público, se um desavisado chegasse nessa hora, facilmente concluiria que o show ali se iniciava. A decoração de palco sofreu só uma alteração: a capa de Ritual às vezes no telão, em alternância com o nome do grupo. E a empolgação que já estava alta, foi elevada a outros patamares em Distant Thunder, com a pista toda pulando em seu começo. Até o animado Hugo, que parecia ter molas nos pés, resolveu contribuir com seu primeiro backing vocal da noite. Antes de For Tomorrow, André Matos finalmente falou: "E aêêêêê? Essa é uma oportunidade que nenhum de nós poderia imaginar acontecendo. Mas como foi mostrado naquele vídeo de 2003 - e eu nem lembrava mais que tinha falado aquilo - ainda bem que isso voltou a acontecer. E não apenas por nossa causa, eu não preciso nem falar sobre a força que todos deram para que isso se concretizasse. Foi emocionante para nós, no sentido que a gente percebe que fez um trabalho que ficou, de fato, marcado para sempre. E hoje, quinze anos depois, estamos aqui de volta". E checando quem já havia visto a banda antes e quem estava vendo-a pela primeira vez, a quantidade de mãos erguidas foi um empate técnico, justificando a importância do retorno do Shaman. Com Hugo agora no violão e André com uma flauta de pã, tocaram a lindíssima For Tomorrow, muito bem recebida por todos.

Dando continuidade à festa, a animação era tanta que o reservado vocalista até arriscou cumprimentar quem estava no gargarejo da pista premium durante Time Will Come e as complexas partes de bateria em Over Your Head pareceram ser o maior desafio de Ricardo em toda a noite, tão concentrado quanto o vocalista e Luís, escondido atrás de seus cabelos, mas que detonaram em seus instrumentos a noite toda. Fairy Tale, o maior sucesso do conjunto, foi indiscutivelmente um caso à parte, tamanha a paixão dos fãs a cantá-la, cabendo até um questionamento: quantas pessoas conheceram a sonoridade do Shaman e por eles passaram a se interessar a partir de sua inclusão na trilha sonora de uma novela global? Impossível cravar, mas o foi fato que Hugo encostou-se nos amplificadores na lateral direita do palco em seu final e passou a assistir ao público, em reverência, enquanto Ricardo retribuía o carinho jogando baquetas a dois afortunados fãs da premium, antes de ser novamente posto à prova em Blind Spell.

Ritual tirou o povo do chão e, mesmo não precisando, André apresentou seus companheiros antes de fechar o set (os gritos de "Jesus! Jesus!" na vez de Luís foram tão hilários quanto clássicos) e demonstrou gratidão: "Como vocês podem imaginar, estamos chegando ao final. Foi uma grande surpresa quando a gente tinha na cabeça a idéia de fazer apenas um show e vocês mereceram estar aqui, na estréia deste show, celebrando os dois discos do Shaman com nossa formação original. Estão convidados a voltar amanhã, quem puder, mas muita gente veio de longe [nota: ao ver um fã com bandeira chilena]. Obrigado a vocês e espero que, em breve, a gente se veja outra vez". Então, não podendo contar com Tobias Sammet para o dueto vocal em Pride, Bruno Sutter foi chamado, ou ´Bruno Sammet´, como brincou André ao convocá-lo. Final apoteótico com linda chuva de papel branco picado e então a mesma versão de Arrival Of The Birds foi a senha para que todos partissem, seguida de Electric Eye (Judas Priest) no som ambiente enquanto os fãs lentamente deixavam a casa.

Vida longa ao metal melódico nacional, pois, com o Angra revigorado (ao gravar DVD em julho no Tom Brasil) e o Viper fazendo shows esporádicos (Sesc Belenzinho há exatas duas semanas e Viper Day no Manifesto em abril), a pergunta era: "E o Shaman, por que não se junta?". Atendendo ao apelo dos próprios fãs, teve fim a espera e há mais por vir, conforme foi deixado no ar por André Matos, também antes de Pride: "O que era para ser apenas um show virou uma turnê (...) Essas reuniões são momentos únicos e especiais e a gente nunca sabe se isso vai se repetir ou não. De qualquer maneira, como a gente começou aqui, quem sabe a gente não termine aqui? E não resta mais nada a não ser dizer muito obrigado". De nada, e obrigado a vocês, Shaman...

Setlist
1ª Entrada - Reason
[Introdução - vídeo com imagens de bastidores]
01) Turn Away
02) Reason
03) More [The Sisters Of Mercy Cover]
04) Innocence
05) Scarred Forever
06) In The Night
07) Rough Stone
08) Iron Soul
09) Trail Of Tears
10) Born To Be
[Intervalo - vídeo com imagens do making of de Reason]
2ª Entrada - Ritual
11) Ancient Winds [utilizada como Intro]
12) Here I Am
13) Distant Thunder
14) For Tomorrow
15) Time Will Come
16) Over Your Head
17) Fairy Tale
18) Blind Spell
19) Ritual
20) Pride [participação especial de Bruno Sutter]

Trilha TPS (Tensão Pré-Show) completa, pois chegamos à casa antes de rolar a discotecagem: Savior (Rise Against); Born To Be Wild (Steppenwolf); Last Resort (Papa Roach), Radioactive (Imagine Dragons); Carry On Wayward Son (Kansas); 21 Guns (Green Day); Eye Of The Tiger (Survivor); Killing In The Name (Rage Against The Machine); The Diary Of Jane (Breaking Benjamin); Sex On Fire (Kings Of Leon); Still Counting (Volbeat); Black Hole Sun (Soundgarden); If Today Was Your Last Day (Nickelback); How You Remind Me (Nickelback); Under The Bridge (Red Hot Chili Peppers - tesourada no meio); The Danish Girl (Alexandre Desplat); The Artist Without Arms (Enxo - essa só o Shazam conhece?); Bibo No Aozora / Endles Flight / Babel (Ryuichi Sakamoto / Jaques Morelenbaum / Everton Nelson / Gustavo Santaolalla); Summer 78 (Yann Tiersen); e Arrival Of The Birds / Transformation (The Cinematic Orchestra & The London Metropolitan Orchestra)


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