Música Contemporânea para Todos os Gostos, Idades e Estilos: Lollapalooza 2014
Publicada em 08, Apr, 2014 por Marcia Janini
O Autódromo de Interlagos recebeu nos dias 5 e 6 de abril, edição do festival Lollapalooza. Com público estimado em 140 mil pessoas nos dois dias de evento, distribuídas pelos quatro palcos de atração musical além de lounges e áreas de lazer e descanso, o festival revelou-se um grande sucesso de público, onde a palavra de ordem foi a diversão, contabilizando no total mais de 20 horas de shows e boa música.
Atração do palco Skol, a banda Phoenix embala os jovens ao som de seu rock com atmosfera retrô. Com grande ousadia e energia os integrantes da banda utilizam com propriedade sonoridades extraídas de vertentes como o new romantic, e demais elementos da new wave, criando deliciosa atmosfera. Suas canções de acento contemporâneo denotam descontraidamente o romantismo tardio, tão em voga nos dias atuais.
Perceptível a influência da sonoridade 80´s e de bandas como Smiths e The Cure em suas composições, sem perder o tom autoral e identitário.
Com letras fluidas e grande destreza instrumental, a banda empolga os mais antenados. Recursos como retardos no andamento, notas em suspensão do teclado e bateria cadenciada, em meio aos riffs de guitarra e linha de baixo em dub são recorrentes em suas melodias, numa apresentação gostosa, divertida e de extremo bom gosto. Uma das melhores apresentações do festival, alcançando recorde de público.
Slides na guitarra e reforço de bass, aliados ao teclado em melisma, traduzem densidade a algumas canções, emoldurando de forma primorosa o excelente vocal, agudo e suave do front man, de timbre doce e diferenciado.
Nota para os recursos futuristas extraídos do teclado em diferentes momentos da apresentação, determinando o inteligente uso de sintetizadores, num retorno a esparsas notas do synthpop... Great!!!!
Os veteranos da Nação Zumbi, uma das principais atrações do palco Interlagos, incendeia o público com seu manguebeat, na fusão entre rock, reggae e ritmos tradicionais do nordeste, como o coco de embolada e o maracatu. O perfeito fraseado vocal rápido e contundente, remetendo ao urban continua a surgir em suas apresentações em meio ao caos sonoro da zabumba, tendo por fundo os acordes em progressão ascendente das roqueiras guitarras distorcidas... Descontraídos em meio a seriedade das críticas sociais expressas em suas letras de um simbolismo único, a banda realiza uma bela apresentação, onde executa seus grandes sucessos.
Nota para o belíssimo trabalho da percussão, auxiliando a bateria na determinação do andamento e cadência.
Tocando para um público de aproximadamente 70 mil pessoas, recorde absoluto de público entre todas as atrações da noite do dia 5 de abril distribuídas pelos quatro palcos e atrações alternativas, a aguardada banda Muse encerra em grande estilo a primeira noite do palco Skol. Com seu rock de peso, explora de forma magistral as diversas vertentes do rock, inserindo a fusão entre heavy metal, punk e grunge em suas composições. Emocionante a homenagem a Kurt Cobain, líder do Nirvana falecido a exatos 20 anos, com o cover da intensa "Lithium".
Importante salientar o toque de modernidade de suas canções, que exploram também elementos de outras vertentes musicais determinados por teclados e sintetizadores, como o minimal e electro, oriundos da música eletrônica atual.
A bateria, densa, cadenciada e conduzida com perícia traduz vigor extra à grande maioria das canções apresentadas, seguida de perto pelo encadeamento entre os acordes em slides das guitarras distorcidas e do baixo contundente.
Igualmente dignas de menção as preciosas introduções às canções, num brilhante trabalho do teclado de notas etéreas, suspensas, em perfeito entrosamento e sintonia com os arranjos cromáticos da guitarra, em evoluções técnicas de rara beleza.
Recursos específicos traduzidos da robótica e futurismo, emolduram as canções com toque de ousadia e criatividade ímpares, apoiando os belos e bem colocados vocais do band leader Matthew Bellamy, de timbre suave e privilegiado, que utiliza com propriedade e personalidade seus graves em modulações de grande complexidade estética, criando atmosfera onírica em vários momentos da bem realizada apresentação.
Já no dia 06, Savages traz para o palco Interlagos seu som alternativo e cheio de bossa, emprestando de vertentes do post-punk como o dark wave e o synthpop a tônica de suas composições. O vocal suave de tom agudo e poderoso, visceral, remetendo em intensidade e força ao de Siouxie Sioux, emoldura de forma precisa a ousadia e irreverência em canções de andamento acelerado e urgência, expressa nas letras marcantes.
À densa bateria cadenciada, aliam-se os acordes rascantes das guitarras, atingindo distorções profundas... Baixo em dub, bem pontuado, realiza perfeito contraponto. Cheias de atitude rock n´ roll, as garotas realizaram uma apresentação perfeita. Seu ar de rebeldia não impediu a boa comunicação com a plateia, apresentando também neste quesito total sinergia palco/público, em uma apresentação linear e bem conduzida.
Uma das mais aguardadas atrações do festival, por roqueiros de todas as idades e estilos, a banda Pixies sobe ao palco Skol com seu punk rock. Interpretando composições de todas as fases de sua carreira, a banda traz um espetáculo de extremo bom gosto, com esquema de iluminação privilegiado.
Digna de menção a perfeita performance vocal de Black Francis, alternando em modulações de grande complexidade técnica. Passeando por notas graves e agudas, na eloquência de guturais e suavidade quase sussurada em alguns momentos, percebe-se que os anos exerceram efeito positivo sobre o front man, em excelente forma.
O instrumental traduz também um show à parte em ousadia e técnica. A bateria bem marcada determinou com maestria andamento e cadência das canções, em conversões precisas, inteligentes e nada óbvias. A perfeição das guitarras distorcidas em acordes preciosos, o baixo explorando linhas coerentes e a participação do violão, que emprestou tom de suavidade necessário às baladas, na adoção de elementos de estilos diversificados como o country rock e o folk denotam a enorme versatilidade de uma das bandas mais influentes na história do rock. Uma das apresentações mais perfeitas em termos de técnica de todo o festival!!!
Encerrando as apresentações do palco Interlagos, New Order surge cercado de belíssimo aparato cênico e esfuziante esquema de iluminação. No telão/ciclorama de fundo trechos de clipes musicais e variados recursos de imagem, numa verdadeira viagem aos sentidos e à década de 1980.
Com extrema destreza e precisão técnica, nota para o teclado de Gillian Gilbert e sintetizadores de Stephen Morris, determinando com a mesma jovialidade e energia as melodias que influenciaram várias gerações do eletrônico e do rock alternativo.
Carismático, o front man Bernard Sumner esbanjou simpatia em sua comunicação com o público, em performances vocais precisas e emocionantes, interpretando canções que perpassaram desde o início da carreira com o Joy Division, até os grandes hits dos anos 80, numa bela retrospectiva à carreira da banda.
Como grata surpresa ao público, a banda lança durante sua apresentação nova canção, "Singularity" pautada na cadência e andamento do synthpop, sua marca mais influente, mas traduzindo em seu bojo recursos modernizantes do eletrônico atual, num retrocesso ao passado com os pés bem fincados no presente. Interessantíssima a sonoridade apresentada pela melodia, dançante e contagiante.
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