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Coberturas de shows

Mark Farner no Teatro Gamaro

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Publicada em 12, May, 2019 por Vagner Mastropaulo

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Lugar de filme é no cinema, show é em casa de espetáculo e peça é no teatro, certo? Balela... Tais restrições não cabem mais no mundo atual: há quem assista a filmes pelo celular, encenações alternativas ocupam ruas e Mark Farner, músicos e fãs perfeitamente adequaram sua apresentação ao Teatro Gamaro. E como é bom se sentir respeitado sem a truculenta revista que nivela o roqueiro a um animal terrorista e com assentos marcados, o cumprimento do horário estabelecido e tudo terminando cedo o suficiente para o fã partir sem pelejar, fosse de transporte coletivo, carro, Uber ou a pé. Estranhamente não se via a barraquinha de merchan, ou, se tinha uma, não era facilmente identificável. Para compensar, havia o comércio de espetinhos na área externa ao acesso à sala do teatro.

Pontualmente às 21:30, sem banda de abertura, intro ou qualquer tipo de decoração, vieram ao palco ´apenas´: o ex-Grand Funk Railroad nos vocais, guitarra (uma só, sem trocas) e teclados, vez por outra; Lawrence Buckner no baixo de cinco cordas (apenas um também); o tecladista Bernie Palo; e o baterista Hubert "H-Bomb" Crawford (com kit não-centralizado, mas na lateral esquerda, olhando-se de frente, e com proteção de acrílico, evitando interferência sonora). Com som cristalino, abriram a festa com Are You Ready (para os mais ´antigos´, a faixa 1 do lado A de On Time, álbum de estréia do GFR em 1969 e mais velha do que a maioria dos presentes) forçando comentário de um fã ao lado deste escriba, de butuca: "Começaram rasgando!". Como é impossível comportar-se exemplarmente ao som de uma lenda do rock, com a ausência de pessoas atrás, quem estava nas últimas fileiras do primeiro mezanino levantou-se, bem como em suas laterais (e da plateia também), sem afetar a visão de outras pessoas.

Única de Phoenix (1972) e chegando a ter todos os músicos nos vocais de apoio, Rock & Roll Soul foi reconhecida de bate-pronto enquanto Mark Farner arriscava os primeiros passinhos da noite. Tendo ´soul´ no título, como esperado, o baixo swingado segurou a onda e falou alto no solo de guitarra. Aos 70 anos, o vocalista esbanjava vitalidade e contagiava o público, fosse batendo nas pernas para marcar o tempo das palmas ou partindo para o teclado centralizado no palco. Assumidamente cristão, de peito aberto vestindo colete e com um crucifixo pendurado no pescoço, checou se todos se divertiam ainda no meio de Footstompin´ Music (sensacional aula sobre as origens do rock ao vivo) e, como fizera Dee Snider no Tom Brasil em março, não deixou todos os clássicos para o final, evitando expectativa desnecessária, ao emendar We´re An American Band em meio a uma explosão de gritos.

Ao brindar aos presentes, pediu a palavra pela primeira vez: "Ao prazer de olhar aos seus lindos rostos". Aimless Lady, com seu início de guitarra feito locomotiva, foi prova cabal de como sua voz ainda soa limpa e poderosa. Uma pena apenas alguns começando a perder o decoro na platéia, tirando a camiseta sem a menor necessidade e lentamente avançando à frente do palco, atrapalhando quem ocupava as poltronas de canto. Ao agradecer, em português mesmo, Mark Farner mostrou simpatia, enquanto a funkeada Paranoid exigiu nova apreciação vocal e instrumental coletiva. E a demonstração de como se fazer o bom e velho rock ´n´ roll não parou por aí: Into The Sun foi outro momento de destaque tanto para Lawrence quanto para Hubert, que sentava a mão em seu kit, tocando em pé em uma parte perto de seu final. O alto nível manteve-se em All You´ve Got Is Money, com pitadas soul e funk em meio ao rock, lembrando o que Glenn Hughes, outra referência ao vivo, costuma mostrar em suas performances (e não é possível que Flea e os Chili Peppers não tenham ao menos bebericado na fonte das duas últimas canções).

Dando um respiro ao gogó do patrão, o baterista assumiu os vocais em Shinin´ On, cumprindo as duas tarefas a contento. Em seu começo, ao ´vazar´ um estranho som de sua pedaleira, o dono da festa tirou onda: "Vem do espaço sideral". À vontade, divertia-se andando calmamente e dançando pelo palco, auxiliando nos backing vocals e solando. Um pouco mais longa do que em estúdio, Heartbreaker reexaltou sua potência vocal, aliando técnica ao feeling demandado pela canção. Comparações podem ser injustas, mas, em termos de comoção, foi superior à We´re An American Band, sem minimizá-la e o esforço no palco foi devidamente recompensado com genuínos aplausos.

Mean Mistreater marcou o retorno do anfitrião ao teclado, puxando seu início, e foi outra em que o baterista desceu o braço em seu instrumento e foi nela que o povo ameaçou partir de vez à frente do palco, forçando o pobre bombeiro da casa a pedir que recuassem. Sincero, Mark Farner cravou: "Está um pouco quente. Sinto-me tão bem em estar aqui, São Paulo". Então as emoções voltaram a aflorar ao sensivelmente interpretar a introdução de Bad Time, no que talvez possa ser classificado como a balada do set. Dando prosseguimento ao baile, Sin´s A Good Man´s Brother lembrou os tempos de ´Qual é a música?´, reconhecida na primeira nota. Cantada em tom mais elevado, nem por isso de forma inferior, ela botou a galera para dançar. E o clima de festa permaneceu em The Loco-Motion, com pausa para que o público fizesse a segunda voz em "Come on, baby. Do the loco-motion".

O cover de Carole King foi seguido pelo solo do Sr. Bomba H (sob piscar de luzes criando efeito visual interessante) e o que era para ser seu momento exclusivo tornou-se um solo percussivo coletivo, justificando as caixas e o prato centralizados no fundo no palco (perto do teclado de Mark Farner) e as duas congas posicionadas perto de Bernie Palo. Simpático, o líder do quarteto apresentou seus músicos, destacando suas cidades e estados natais: o baterista, de Memphis (Tennessee); Lawrence, de Jacksonville (Flórida); e Bernie, de Detroit (Michigan). Brincando, fez um pedido ao auto-apresentar-se: "E eu sou seu irmão, Mark, mas continuem a dançar", antes do cover de Some Kind Of Wonderful, cantado pelo baixista no começo. E foi nela que a boiada estourou... ao solicitar que uma fã retornasse à sua poltrona, a mesma tirou o bombeiro para dançar, ignorando-o e, sem querer, instigando outras pessoas a se levantar, prostrando-se na frente do palco.

Embora civilizado, talvez o alvoroço (ou o adiantado da hora) tenha limado Inside Looking Out, que constava nesta posição do setlist de palco. Ao enfatizar amar estar tocando no país e pedir para que Deus abençoasse a todos, Mark Farner emocionou-se ao anunciar a saideira: "Para todos meus irmãos e irmãs que acreditam no amor. Nós não queremos nada menos do que amor. Esta é para vocês". Desnecessário tentar por em palavras as sensações despertadas por I´m Your Captain (Closer To Home). Despedindo-se, o vocalista agradeceu, fez juras de amor e uma promessa: "Nós jamais nos esqueceremos de vocês". Insaciável, a galera permaneceu cantando "I´m getting closer to my home" na frente do palco enquanto os músicos tiravam a tradicional foto de frente aos fãs, que não arredaram pé por mais cinco minutos (que na hora pareceram mais), até que My Name Is Mud, do Primus, surgisse no som ambiente e o público finalmente assimilasse o término do espetáculo.

Uma hora e quarenta minutos mais tarde e após quatorze autorais do Grand Funk Railroad, dois covers registrados na discografia oficial do conjunto e um solo que explicou o porquê do apelido de Hubert, só restava partir. Agora é esperar que Mark Farner não demore além dos mesmos dois anos que levou para regressar à cidade, quando tocou no Carioca Club em maio/2017. Promessa feita, torçamos para que seja efetivamente cumprida.

Setlist
01) Are You Ready
02) Rock & Roll Soul
03) Footstompin´ Music
04) We´re An American Band
05) Aimless Lady
06) Paranoid
07) Into The Sun
08) All You´ve Got Is Money
09) Shinin´ On
10) Heartbreaker
11) Mean Mistreater
12) Bad Time
13) Sin´s A Good Man´s Brother
14) The Loco-Motion [Carole King Cover]
15) Drums/Percussion Solo
16) Some Kind Of Wonderful [Soul Brothers Six Cover]
17) I´m Your Captain (Closer To Home)


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